Acessibilidade digital: como criar conteúdos inclusivos e por que eles são importantes para sua estratégia

ESG para Marketing
Rakky Curvelo
Rakky Curvelo

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Em um cenário de alta conectividade, em que as maiores empresas já marcam presença em diferentes plataformas online, é importante refletir sobre a seguinte questão: será que todos conseguem acessar seus conteúdos da mesma maneira e com a mesma qualidade? Esse questionamento está dentro de um conceito conhecido como acessibilidade digital.

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    É verdade que muitos associam a ideia da acessibilidade a algum tipo de deficiência. Mas não é bem assim. Acontece que esse conceito é abrangente e se relaciona com a capacidade ou possibilidade de alguém acessar uma informação, um serviço, um produto ou um lugar.

    Quando levamos para o lado das estratégias digitais de marketing, isso nos interessa muito, porque, se seus conteúdos não estão sendo acessíveis, uma grande margem de tempo e recursos está sendo desperdiçada.

    Por isso que, neste artigo, compartilharemos as principais informações sobre a acessibilidade digital no Brasil, bem como o que as empresas podem e precisam fazer para criar conteúdos mais inclusivos.

    Esse tipo de acessibilidade não é direcionado apenas a pessoas com deficiência. O esforço consiste em promover ferramentas e soluções que tornem os conteúdos acessíveis a todos, para que sejam compreendidos com facilidade pelo maior número possível de pessoas.

    Qual é o panorama da acessibilidade digital no Brasil?

    Segundo um estudo realizado pela BigData Corp, há no Brasil em torno de 16,89 milhões de sites em operação, incluindo portais de notícias, blogs, e-commerces etc. De 2016 a 2021, houve um aumento de 53,68%, e a tendência é que esse número continue a aumentar.

    A pesquisa constatou que apenas 0,89% dos sites foram bem-sucedidos nos testes de acessibilidade aplicados pela equipe. No ano anterior, o numero havia sido de 0,74%. Apesar do crescimento tímido, o total não chega a 1%, infelizmente. 

    Os últimos dados do IBGE revelaram que o Brasil tem quase 46 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, em diferentes graus. Esse número representa 24% da população. Levando em conta esses números, concluímos que quase 1 ⁄ 4 da população tem alguma deficiência, mas menos de 1 em cada 100 sites são inclusivos.

    Essa discrepância destaca a enorme necessidade que o nosso país tem de respeitar as dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência. A maior parte das organizações não consegue produzir conteúdos que também possam ser consumidos por esse grupo.

    Dados coletados pelo IBGE revelam também que 3,4% da população brasileira tem algum grau de deficiência visual, enquanto 2,3% apresentam um nível de surdez. Esses tipos de deficiências demandam recursos e cuidados específicos, que necessitam de atenção no compartilhamento de conteúdo, sobre os quais vamos falar mais à frente.

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    Por que o país avança a passos lentos nessa área?

    A dificuldade em garantir a acessibilidade digital é um problema mesmo em empresas e organizações comprometidas com ESG (em português, Governança Ambiental, Social e Corporativa). Mas por que é difícil o avanço nessa área?

    Em primeiro lugar, há muita falta de conhecimento por parte das empresas sobre as leis de inclusão. Ao implementar suas estratégias de marketing, os gestores costumam produzir conteúdos sob a ótica de pessoas que não teriam dificuldades em acessá-los. O resultado são sites pouco amigáveis para tecnologias assistivas.

    Então, vamos para o outro lado dessa moeda, que é a legislação. Sim, ela existe e é bem específica sobre o tema. A Lei da Inclusão, criada em 6 de julho de 2015 (ou seja, há mais de 6 anos), determina no artigo 63 que:

    “É obrigatória a acessibilidade nos sítios da internet mantidos por empresas com sede ou representação comercial no País ou por órgãos de governo, para uso da pessoa com deficiência, garantindo-lhe acesso às informações disponíveis, conforme as melhores práticas e diretrizes de acessibilidade adotadas internacionalmente.”

    Ao longo dos artigos seguintes, a Lei ainda descreve alguns dos recursos obrigatórios para garantir a acessibilidade digital de pessoas com deficiência. Apesar de ser bastante clara, muitas empresas ainda não se ajustaram às definições. 

    Assim, outro motivo pelo qual o avanço ainda é muito lento é a falta de uma forte fiscalização por parte dos órgãos públicos, penalizando organizações que não cumprem essas normas.

    Apesar dessa dificuldade, percebemos como o brasileiro tem bastante interesse em ajustar seus conteúdos e soluções para atender a diferentes públicos. Aliás, existem muitas vantagens em fazer isso, tanto para a empresa, quanto para o público em geral. Veja só!

    Por que criar conteúdos inclusivos?

    A produção de conteúdos inclusivos é vantajosa tanto para a organização quanto para os clientes, fortalecendo a marca de modo bastante positivo no mercado.

    Responsabilidade social

    A responsabilidade social consiste em uma série de ações e atitudes que a empresa tem para expressar seu compromisso com o desenvolvimento econômico sustentável, em benefício da sociedade. O objetivo é contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

    A inclusão é um tópico fundamental da responsabilidade social. É percebida em atitudes e processos da empresa que refletem seu desejo de fazer com que seus conteúdos, produtos e serviços sejam acessíveis para todas as pessoas.

    Quando uma empresa adota estratégias e soluções que permitem que seus conteúdos digitais sejam acessíveis para o público em geral, inclusive àqueles com deficiências, ela ganha um diferencial, colocando-se à frente de seus concorrentes.

    Visibilidade positiva da marca

    Como vimos, uma parcela significativa da população tem dificuldades para ter acesso adequado aos conteúdos digitais. É um segmento que pode estar sendo deixado de lado em empresas cujas estratégias não são inclusivas.

    Por outro lado, investir na acessibilidade digital permite que a marca alcance um novo público, ou talvez até um novo nicho de mercado antes inexplorado.

    Mais empatia

    A empatia pode ser definida como a capacidade de sentir a dor que o outro está sentindo. Dentro das estratégias da empresa, isso significa entender os desafios e as limitações que certos segmentos do público podem ter e tentar impactar todos eles.

    Com esse objetivo em mente, o negócio que visa a acessibilidade digital expressa muito mais empatia, conseguindo alcançar uma diversidade maior de pessoas. Essa postura fortalece a imagem da marca no mercado e abre a oportunidade para que a empresa possa ser mais inovadora, dinâmica e inclusiva.

    Como criar conteúdos inclusivos?

    Até aqui, você percebeu diversas vantagens de garantir a acessibilidade digital de suas estratégias. Mas como isso funciona na prática ao produzir conteúdos inclusivos. Vamos compartilhar agora diversas soluções e técnicas que podem ser implementadas por sua marca. Veja só!

    Conheça e invista em tecnologias assistivas

    As tecnologias assistivas são soluções, serviços e recursos direcionados para pessoas com deficiência. Elas permitem que esse público possa ter independência e autonomia em suas atividades diárias e promove a qualidade de vida e a inclusão social para esses indivíduos. Assim, elas estão presentes tanto no mundo físico quanto no ambiente digital.

    Por exemplo, pessoas com deficiência visual podem utilizar softwares que leem não apenas as páginas de sites, mas tudo o que aparece na tela. Os surdos podem contar com recursos em sites que interpretam em Libras (Língua Brasileira de Sinais) os textos, já que muitos deles podem ter dificuldade para compreender o português.

    Entender como essas tecnologias funcionam vai ajudar sua empresa a não apenas implementar ferramentas adequadas, mas também produzir conteúdos que possibilitam o bom funcionamento dos recursos assistivos.

    Por exemplo, as imagens precisam ter uma descrição no site. Isso é importante porque pessoas cegas e com baixa visão podem entender o conteúdo das imagens por meio da leitura que as ferramentas fazem dessa descrição. Assim, sempre que fizer a inserção de um arquivo desse tipo, preencha a área relacionada à descrição.

    Produza conteúdos em diferentes formatos

    Muitas empresas focam apenas na produção de conteúdos escritos, como posts em blogs e e-books. Apesar do valor e da riqueza de informações que esses modelos podem trazer, não são todas as pessoas que se adaptam bem a eles. Alguns não gostam ou não têm tempo de ler textos longos na internet e desejam mídias de consumo casual e mais ágil.

    Por isso, será que alguns dos seus conteúdos podem ser remodelados para formatos diferenciados, como vídeos e podcasts? Mídias em áudio, por exemplo, permitem que os usuários possam consumir o conteúdo enquanto estão envolvidos em suas atividades diárias, como trabalho, academia, caminhada ou mesmo afazeres do lar.

    Nesse contexto, podemos abordar também a ideia dos conteúdos multissensoriais, que são inclusivos por criar conteúdos divulgados em diferentes canais sensoriais. Assim, se uma pessoa tem uma deficiência em alguns dos sentidos (visual ou auditiva), sempre terá à disposição algum canal mais facilitado.

    Com essa estratégia de utilizar diferentes formatos, você conseguirá atingir diferentes tipos de público e vai permitir que ainda mais usuários tenham acesso ao seu conteúdo.

    Forneça legendas, transcrições e interpretação em línguas

    Dentro dessa mesma ideia dos conteúdos multissensoriais, você pode explorar recursos específicos para tornar seus conteúdos mais acessíveis. As legendas, transcrições e interpretação são apenas algumas dessas soluções práticas e fáceis de implementar.

    As legendas em vídeos são muito úteis para pessoas surdas ou com baixa audição, pois permitem entender o conteúdo sem que seja necessário ouvir os sons. Mas longe do que muitos pensam, esse recurso não é restrito a pessoas com algum tipo de deficiência.

    Uma pesquisa feita pelo Facebook e divulgada pelo Digiday revelou que 85% dos usuários da rede assistiam a vídeos no mudo. Isso pode ocorrer por diversos motivos, seja pelo incômodo, seja pela discrição em um ambiente social.

    Outro recurso que promove a inclusão social é a interpretação em Libras. Uma vez que muitos surdos não entendem com clareza a língua portuguesa, é recomendado que os sites implementem uma ferramenta que faça a interpretação das informações da página.

    Uma dessas soluções é o Hand Talk, um aplicativo que faz a tradução de texto e voz para a Língua Brasileira de Sinais (Libras).

    Essa mesma ideia serve para programações em áudio. Um podcast, por exemplo, pode ter uma ferramenta que crie transcrições. Assim, surdos e outras pessoas com alguma deficiência auditiva podem acompanhar o conteúdo.

    Cuide da formatação dos textos

    A estrutura do texto também é importante para torná-lo acessível. Se ele não for construído e formatado de forma adequada, o desempenho de tecnologias assistivas pode ser comprometido. Separamos 7 aspectos textuais aos quais é necessário dar atenção. Veja só!

    1. Seleção da fonte

    O tipo, o tamanho e a cor da fonte importam bastante para pessoas com problemas de visão que precisam utilizar programas de computador que leem ou ampliam a tela.

    Por isso, é recomendado usar fontes simples, sem serifas, pois são mais fáceis de ler. Algumas das fontes mais utilizadas são Arial, Verdana e Calibri. Os modelos cursivos não são bem-vindos, apesar de seu apelo estético.

    O itálico é muitas vezes usado em palavras estrangeiras. Embora isso não seja impróprio, o ideal é evitar o excesso, pois essa formatação dificulta um pouco a leitura. 

    Nessa escolha de fontes, leve em conta também que alguns caracteres podem ser confusos, como a vogal “I” maiúscula que se confunde com a consoante “l” minúscula, ou a letra “O” e o número “0” (zero).

    O espaçamento adequado entre letras, palavras, linhas e parágrafos também tornam o texto mais escaneável. Por isso, aposte em uma leve separação entre os blocos, deixando-os bem nítidos.

    2. Alinhamento do texto

    Priorizando a experiência do seu público, a recomendação é alinhar os textos à esquerda. Isso porque alguns usuários têm dificuldade de ler textos muito justificados, em que não há diferença entre a esquerda e a direita. Fica muito mais fácil ler e movimentar os olhos ao pular de uma linha para outra quando não existe essa simetria.

    3. Inserção de links acessíveis

    Os links são muito utilizados nos artigos da web, pois direcionam o leitor a páginas relacionadas. Ao passo que são de fácil acesso para pessoas que utilizam um mouse, podem não ser tão simples para quem usa um leitor de tela ou apenas o teclado. Alguns, por exemplo, navegam entre os links com o botão Tab do teclado.

    Por isso, o ideal é usar expressões contextuais e que expressem claramente qual será a página de destino. Assim, pode ser utilizado o próprio título da página ou do artigo, ou mesmo uma expressão completa que faça sentido. 

    Veja alguns exemplos:

    Note como ficou fácil entender para onde os links vão direcionar o usuário. A navegação fica limpa e acessível.

    4. Distribuição das informações no texto

    O texto também precisa ser organizado de forma que as informações sejam compreendidas e encontradas com agilidade. A melhor forma de fazer isso é por meio da divisão em títulos e subtítulos. Além de escrever blocos de parágrafos mais curtos, o conteúdo precisa ser subdivido em partes que vão tratar dos temas do artigo. Por exemplo, se seu objetivo é falar sobre as vantagens do anúncio pago, por que não segmentar o texto em partes menores, como:

    • O que são anúncios pagos?
    • Como funcionam?
    • Quais as vantagens?
    • E as desvantagens?
    • Como começar a usar?

    Fazendo esse tipo de divisão, fica simples entender o desenvolvimento do texto e, ao mesmo tempo, é prático encontrar as informações específicas que o usuário precisa, mesmo que um artigo seja mais longo.

    Leve em conta também que essa divisão precisa ser marcada por meio da hierarquia de cabeçalhos. Além de contribuir para a boa acessibilidade, também facilita a navegação e leitura dos motores de busca, o que é conhecido como SEO (Search Optimization Engine), muito trabalhado no marketing de conteúdo.

    Na prática, a formatação de cabeçalhos precisa seguir a ordem H2, H3, H4, e assim por diante, como se fosse a divisão de um livro. O H1 fica reservado para o título da página.

    5. Copywriting

    Copywriting refere-se à aplicação de diferentes técnicas para incentivar o usuário a tomar uma ação planejada. Apesar de convincente, é sutil e respeita a autonomia da pessoa.

    As técnicas de copywriting promovem um texto com uma linguagem simples e fácil de ler, sem abrir mão da qualidade. Isso torna o texto acessível a todo o tipo de pessoa.

    Então, lá vão algumas dicas que podem ser muito úteis para garantir um texto que atraia o público:

    • use frases curtas e em ordem direta (sujeito + predicado). Redigir frases cheias de vírgulas e com ordem inversa deixa o texto mais truncado e difícil de ler);
    • evite repetir palavras. Para isso, pesquise por sinônimos para deixar o texto mais rico;
    • se for adequado, negrite trechos importantes do texto, mas nunca use essa formatação em excesso;
    • dê exemplos de casos reais que ilustram o argumento;
    • use storytelling, pois histórias são fáceis de entender e atraem a atenção do leitor.

    Um texto ou tipo de material produzido para web é diferente de um artigo acadêmico. Por mais que um documento científico seja completo e tenha informações relevantes, a abordagem e o estilo de linguagem não é acessível ao grande público. Seu desafio, então, será reunir conteúdo de qualidade em um veículo que seja “palatável” para qualquer tipo de pessoa.

    6. Hashtags

    Uma prática que ajuda na leitura de hashtags por tecnologias assistivas é usar letras maiúsculas no início de cada palavra da composição, como em #Marketing Digital. Assim, pessoas com deficiência visual que utilizam leitores de tela terão facilidade de entender.

    7. Emojis

    Os emojis são um recurso visual muito bem-vindo, em diferentes contextos. Mas o ideal é usá-lo no formato de imagem, em vez de usar caracteres. Isso é importante porque os leitores de tela não entendem os caracteres, mas o emoji 🙂, por exemplo, pode ser lido como “smile”.

    Todos esses cuidados relacionados ao texto, incluindo sua formatação e conteúdo, são fundamentais para alcançar um número maior de pessoas, levando em conta a maneira como consomem informações na internet.

    Dê atenção ao contraste e a visibilidade dos elementos gráficos e textos

    Quando falamos em cores, é fundamental levar em conta que nem todos conseguem distingui-las com clareza, como no caso de pessoas daltônicas, que têm um distúrbio na forma como percebem as cores, em especial o vermelho e o verde.

    Por isso, o contraste é tão importante. Não é difícil encontrar páginas na internet com letras claras em um fundo claro. A legibilidade fica muito difícil, em especial para pessoas com baixa visão. Por isso, o site pode ter a opção de ajustar o contraste, facilitando a visibilidade.

    Mas esse cuidado também deve ser replicado em todos os elementos do site e pode ser pensado no momento da criação da página. As Diretrizes de Acessibilidade ao Conteúdo da Web (WCAG) recomendam uma taxa de contraste de pelo menos 4:5:1 em textos comuns. Essa escala garante uma boa visibilidade e é uma prática que se aplica não somente aos textos, mas também a imagens, ícones e ao plano de fundo selecionado.

    Se uma cor é utilizada para passar uma informação (como uma mensagem de erro em formulários), é importante que um recurso adicional deixe esse alerta evidente, como um pop-up ou símbolo. Assim, independentemente das dificuldades com as cores, todos conseguirão ler.

    Aposte na diversidade sociocultural

    Para além dos recursos de acessibilidade técnica, procure associar sua marca a ações que contribuam com a diversidade e a igualdade de direitos em nossa sociedade. Mostre que seu conteúdo entende a realidade de pessoas de todo o tipo. 

    Já existem muitos movimentos que correm nessa direção, como o Black Business, que promove a compra, a venda e a prestação de serviços entre afrodescendentes.

    Essa representatividade não deve ser superficial, pois o público pode facilmente perceber isso. Então, não restrinja essa mudança ao setor de marketing. Monte uma equipe diversa, reestruturando o negócio, para que se torne uma empresa que entende e vive os desafios para promover a acessibilidade digital.

    Ficou interessado sobre responsabilidade social das marcas e quer saber mais? Então, confira nosso artigo “Marketing sustentável: o que é e como fazer”!

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