Na última década, a diversidade tornou-se uma pauta presente em vários contextos. As discussões sobre como tornar o nosso mundo mais abrangente têm ganhado espaço. Elas falam de muitos aspectos, como a ideia de proporcionar maior acessibilidade digital para diferentes grupos. Mas um ponto que se destaca e divide opiniões é o uso da linguagem inclusiva.
Não somente em textos, mas em tudo o que envolve a comunicação, esse modelo de linguagem vem de uma proposta que visa a transformar padrões da língua portuguesa, de modo que ela represente a diversidade existente. E, para que uma empresa se mantenha atual, é importante conhecer as transformações que acontecem na sociedade — o que inclui a linguagem inclusiva.
Afinal, o que é linguagem inclusiva? Como ela se diferencia da linguagem neutra? Neste texto, você vai saber a resposta para essas e outras perguntas. Então continue a leitura!
O que é linguagem inclusiva?
O conceito de linguagem inclusiva tem gerado bastante discussão. Muitos confundem seus fundamentos com aspectos da linguagem neutra. Mas, apesar dos princípios por trás das duas serem semelhantes, as propostas são bem diferentes.
A ideia de inclusão da linguagem não diz respeito exatamente ao uso de expressões adaptadas como “todes” ou “amigxs”. Na verdade, praticar a inclusão linguística significa utilizar as palavras de modo a incluir todos os grupos, sem a necessidade de alterar o idioma.
Nesse contexto, é importante que as pessoas evitem, na medida do possível, o uso de um gênero na formação de frases, especialmente quando se fala para um público mais abrangente. A linguagem inclusiva também está ligada à ideia de evitar termos pejorativos, preconceituosos ou ofensivos para grupos minoritários, como as pessoas com deficiência, neurodivergentes e LGBTQIAP+, dentre outros.
O que é linguagem neutra?
Enquanto a linguagem inclusiva procura estabelecer a comunicação incluindo todas as pessoas, sem a necessidade de mudar a língua, a neutra propõe uma mudança mais profunda. Ela consiste em alterações na estrutura do nosso idioma, de modo a tornar neutras palavras que antes seriam associadas a algum gênero. Por isso, encontramos expressões como “todes”, “elu”, “ile” etc.
Como usar linguagem neutra?
A linguagem neutra traz algumas regras que alteram a estrutura das palavras. O pronomes "ele", por exemplo, pode ser substituído por ”elus” ou “iles”, e as letras "a" e "o", associadas ao padrão binário de gênero, pela letra "e" ou os símbolos "x" e "@". Dessa forma, são utilizados alguns mecanismos para transformar as palavras em algo neutro. Por exemplo, em vez de utilizar pronomes como eles, usa-se “elus” ou “iles”, pronome desenvolvido por Pri Bertucci e a psicóloga Andrea Zanella. O modelo também substitui as letras “a” e “o”, que se referem aos gêneros feminino e masculino, respectivamente, pela letra "e", quando se fala de forma genérica. Também é comum utilizar “@” ou “x” no lugar das mesmas letras como uma alternativa.
Por que a linguagem inclusiva é importante?
O português, assim como outras línguas latinas, tem a característica de utilizar o gênero como um determinante. Sendo assim, algumas palavras mudam de acordo com quem estamos falando. Por exemplo, se vamos nos referir a um grupo de mulheres, utilizamos "todas"; mas, ao falar com um grupo de homens, usa-se "todos".
O grande problema é que, se estamos em uma sala e há diversos gêneros, o comum é utilizar o masculino, pois é considerado neutro. Essa é uma regra que foi estabelecida nos anos 60, pelo linguista Joaquim Mattoso Camara Jr.
Porém, essa norma já é vista como ultrapassada por muitos, que consideram que o gênero masculino não representa os demais. A linguagem inclusiva é uma maneira de tentar reparar essas inconsistências linguísticas, especialmente considerando a importância da diversidade no contexto atual.
Para as empresas, introduzir esse conceito à sua comunicação é importante não só para se manterem atualizadas a respeito das mudanças da sociedade, mas também como é uma forma de desenvolver um conteúdo dinâmico e mais inclusivo.
O uso da linguagem inclusiva pode garantir algumas vantagens, como:
- melhorar a imagem do negócio;
- valorizar a diversidade;
- favorecer a comunicação clara;
- evitar conflitos com a equipe;
- aumentar a sensação de pertencimento;
- mostrar coerência em relação às transformações sociais;
- tornar a empresa um exemplo de reflexão frente a questões sociais.
Como usar linguagem inclusiva na prática?
O fato de a linguagem inclusiva não exigir mudanças na estrutura da língua não significa que implementá-la seja um processo simples. Afinal, será preciso prestar atenção na maneira como nos comunicamos, especialmente para evitar usar o masculino como padrão neutro e tornar as palavras genéricas ao máximo possível.
Confira, a seguir, 5 dicas para isso:
- Usar coletivos é melhor do que utilizar palavras genéricas, principalmente ao se dirigir a um grupo. Por exemplo, em vez de escrever "os jovens", use "a juventude".
- Para o uso de adjetivos e tempos verbais menos sexistas, procure ser o mais amplo possível. Quando pensar em usar palavras como "atento" ou "atenta", evite especificar o gênero: prefira “prestar atenção” ou “atente-se”. E, no lugar de frases como “os policiais têm uma formação insuficiente “, use “a polícia tem uma formação insuficiente”.
- Para se referir a cargos oficiais ou instituições, prefira escolher substantivos que se referem à coletividade e não ao indivíduo. Em vez de "os políticos", por exemplo, você pode usar “a classe política”.
- No caso de menções a condições de deficiência ou incapacidade, procure evitar o tom de capacitismo ou palavras pejorativas como "aleijado", "incapacitado" e "inválido". É melhor usar termos respeitosos, como "pessoa com deficiência".
- Em relação às minorias religiosas e étnicas, o cuidado deve ser para utilizar termos que sejam de preferência desses grupos. Para indígenas, evite utilizar a palavra "índio" — prefira indígena. Também é mais adequado falar "aldeia" ou "território indígena" em vez de "tribo". E, para garantir uma comunicação antirracista, abandone de vez termos racistas como "preto de alma branca" e "cor do pecado", entre outros.
A linguagem inclusiva e a neutra representam uma transformação importante na nossa comunicação. Elas vêm de uma tentativa de tornar a nossa língua mais respeitosa em relação à diversidade e capaz de atender às necessidades de todo tipo de pessoa. Isso se aplica também à produção de conteúdos, sejam eles escritos (como este artigo) ou falados (como um podcast).
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